sábado, 26 de julho de 2014

Fique Onde Está e Então Corra

NOTA: 9/10
Autor: John Boyne
Tradução: Henrique de Breia e Szolnoky
Editora: Seguinte (selo jovem da Companhia das Letras)
Páginas: 224
ISBN: 978-85-65765-40-4
Sinopse: Alfie Summerfield nunca se esqueceu do seu aniversário de cinco anos. Quase nenhum amigo dele pôde ir à festa, e os adultos pareciam preocupados - enquanto alguns tentavam se convercer de que tudo estaria resolvido antes do Natal, sua avó não parava de repetir que eles estavam todos perdidos. Alfie ainda não entendia direito o que estava acontecendo, mas a Primeira Guerra Mundial tinha acabado de começar. Seu pai logo se alistou para o combate, e depois dos quatro longos anos Alfie já não recebia mais notícias de seu paradeiro. Até que um dia o garoto descobre uma pista indicando que talvez o pai estivesse mais perto do que imaginava. Determinado, Alfie mobilizará todas as suas forças para trazê-lo de volta para casa.

QUAL É A ESTÓRIA?

                Alfie Summerfield é um jovem garoto que mora com seus pais, George e Margie Summerfield, na casa nº 6 da Rua Damley, em Londres. Um lugar onde todos os vizinhos se conhecem há muito tempo e, é claro, bisbilhotam
a vida uns dos outros.  No dia do 5º aniversário de Alfie (28/07/1914), a 1ª Guerra Mundial começa oficialmente. Depois desse dia, toda a vida pacata dessa família será alterada drasticamente.
                Seu pai, que antes trabalhava como leiteiro, decide se alistar no exército de forma voluntária, juntamente com os outros homens da rua Damley. Apenas Joe Patience (amigo de infância de George, e morador da casa nº16) não se alistou, por questões ideológicas. Segundo Joe, “os alemães não tinham feito nada contra ele”. Por causa dessa sua convicção, os demais vizinhos o chamarão ao longo da narrativa de “objetor do número 16” (esse termo objetor é explicado pelo próprio personagem na estória), além de passar uma sofrida temporada na prisão.
                Depois que George viaja para o quartel de treinamento e, em seguida, para o combate, Alfie e Margie se aproximam “perigosamente perto da miséria”. A mãe, que já trabalhava como enfermeira em um hospital na capital inglesa, passou a lavar e a costurar roupas para mulheres ricas. Mesmo assim, o dinheiro se torna um problema recorrente na casa dos Summerfields. Isso leva Alfie (agora com nove anos) a trabalhar escondido da mãe como engraxate na estação King’s Cross, para ajudar em casa enquanto a guerra não terminasse.
                Todos diziam que a guerra duraria no máximo até pouco antes o Natal, mas na realidade durou bem mais do que apenas poucos meses. Após os dois primeiros anos de guerra, Margie passou a esconder de Alfie as cartas que o pai enviava, dizendo que George estava em uma missão secreta e não poderia escrever. Isso deu margem para que o garoto pensasse que George estaria morto, mas, na verdade, Margie não queria que seu filho descobrisse que o pai enviava cartas obscuras, sem sentido e que não estava mais em campo, e sim em um hospital psiquiátrico na cidade de Ipswich.
                Um dia, enquanto Alfie engraxava os sapatos de um médico, um forte vento fez com que algumas folhas de seu cliente voassem pela estação. Ao buscá-las, ele lê em uma delas a informação de que seu pai estava internado em um hospital. A partir de então, o garoto reúne todas as suas forças e seus poucos recursos na tentativa de reencontrar o pai e trazê-lo de volta para casa.

MINHAS IMPRESSÕES

                O livro é maravilhoso do início ao fim. Em Fique Onde Está e Então Corra, John Boyne volta a emocionar seus leitores, ao tratar novamente do tema guerra sob a ótica de uma criança, assim como fez, de forma brilhante, em O Menino do Pijama Listrado. Confesso que esse é o primeiro livro que leio de Boyne (vi apenas o filme de O menino do pijama listrado), mas com a desenvoltura e a habilidade de escrita apresentadas nessa obra, provavelmente vocês verão mais resenhas de livros desse autor por aqui!
                A ingenuidade de Alfie misturada com a simplicidade dos demais personagens dá um toque de suavidade à estória, já bastante carregada pelo cenário de fundo (Londres, em plena 1ª Grande Guerra) e pela carga emocional sufocante que todas as guerras proporcionam de alguma forma. A narrativa é bastante equilibrada, sem tomar rumos que a torne excessivamente sentimentalista e arrastada, o que é bastante adequado, tendo em vista que esse é um livro direcionado a um público mais jovem.
               A estória é muito criativa, com descrições fáceis de visualizar e cuidadosamente ambientada na Londres de 1914 a 1918. Os lugares realmente existiram ou existem até hoje, além de alguns personagens, como é o caso do Primeiro Ministro David Lloyd George. Isso me permitiu buscar na internet imagens que pudessem dar certa precisão à minha “viagem imaginativa”. Particularmente, gosto muito de livros que me dão essa oportunidade de combinar imaginação com história real.
Suffolk and Ipswich Hospital (para onde George foi enviado)
Primeiro Ministro Martin Lloyd George
 ("engraxou" seus sapatos com Alfie uma vez na estação King's Cross)

Estação King's Cross em 1910
(sim, é a mesma estação do Harry Potter)
               Um ponto que também me chamou bastante a atenção foi a eficiência da forma progressiva de tensão que o autor imprimiu na obra. É possível sentir a narrativa tornando-se gradativamente mais densa com a aproximação do meio, e atingir o clímax nos quatro últimos capítulos do livro. Junto a isso, o livro trás consigo críticas muito interessantes sobre algumas contradições próprias da guerra, como a euforia e o medo dos alistados ou a esperança de vencer e os surtos de doenças psiquiátricas (pouco conhecidas naquela época).  
               Outra boa jogada do autor foi a repetição de algumas frases por determinados personagens. Ao invés de tornar enfadonha a narrativa, esse recurso permitiu a familiarização do leitor com cada personagem. Por exemplo, a vovó Summerfield repetia sempre “estamos perdidos; estamos todos perdidos”, enquanto Margie, em algumas falas, repetia “estamos perigosamente perto da miséria”.
               Sobre o fim (sem dar spoiler aqui), posso dizer que é bastante envolvente, pois o autor nos surpreende ainda no penúltimo capítulo com novos acontecimentos repentinos. Assim, o final ficou mais intenso ainda. Além disso, algumas partes que no meio estavam apararentemente soltas são encaixadas de maneira muito inteligente no fim, o que confere significado às suas existências na narrativa. Isso me deixou bastante satisfeito, pois nenhuma parte relevante ficou sem razão de existir na estória. O próprio título do livro é explicado em um dos capítulos finais.

               A edição da editora Seguinte (selo jovem da editora Companhia das Letras) tem uma capa que me atraiu logo que a vi na livraria. Cada capítulo tem um nome interessante que se conecta bastante com o que é escrito em cada um deles (ex: Cap. 1 - "Me dê adeus com um sorriso"; Cap. 2 - "Se você fosse o único alemão na trincheira"). No mais, essa é uma edição com capa brochura, simples, com as paginas amareladas e bem fáceis de manusear.




2 comentários:

  1. Eu so li um livro dele, O garoto no convés e gostei muito, gostei da resenha fiquei curiosa, fiquei com vontade de conhecer o Alfie.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

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    1. Oii Denise,
      tenho certeza que você vai gostar muito do Alfie ! rs
      Vi esse livro (O garoto no convés) no Submarino outro dia e parece ser ótimo ! Obrigado pela indicação.
      Com certeza devo ler mais livros do John Boyne ;)
      Grande abraço !

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